DRS.62

Osteoporose em mulheres maratonistas


Dos oito grupos de risco da osteoporose, creio que o de mulheres maratonistas seja o que mais surpreende.

Sei que sites médicos informam que não se sabe os motivos da osteoporose, mas venho há anos estudando Fisiologia, Etiologia e outras ciências, sei que há quem saiba ou, pelo menos, especule.

Há pelo menos 10 mecanismos no desenvolvimento desse mal, dois deles podem explicar a osteoporose em mulheres maratonistas: acidificação do sangue e falta de gordura.

1) Acidificação do sangue

Em outro texto - Acidez do sangue - comentei sobre o mecanismos de controle do pH do sangue. Neste vimos que nosso organismo o controla utilizando três mecanismos:

1) A respiração. Ao facilitar a quebra do ácido anidrido em gás carbônico e água e eliminar o gás, este mecanismo atua sobre a quantidade de ácidos no sangue;

2) Os rins, que entre suas funções está a de filtragem de muitos sais e ácidos;

3) O mecanismo tamponagem, que consiste em fazer reagir com algum ácido (resíduo metabólico) um cálcio orgânico (extraído dos ossos, presente em alguma proteína como um colágeno ou na corrente sanguínea oriunda da alimentação), formando algum sal que será filtrado e eliminado pelo sistema urinário. 

Ora, maratonistas têm metabolismo acelerado, mas isto ao preço de terem mais ácidos graxos decorrentes desse metabolismo. Assim requisitam o mecanismo da tamponagem mais intensamente, com o desgaste do cálcio circulante.

Mas este não é o principal motivo de terem osteoporose.

2) Falta de gordura

Pois é, aquela celulite queimada para aumentar a massa muscular fará falta na terceira idade. Vejamos como.

Sobre os hormônios estrogênios

Os hormônios envolvidos com a menopausa são os hormônios estrogênios. Existem pelo menos 60 formas desse hormônio circulando no corpo de homens e mulheres, mas duas são mais importantes no organismo feminino para este texto: o estradiol e a estrona. 

O estradiol é de longe o mais importante. É importante nas contrações da trompa de falópio, no preparo do útero para receber o óvulo e em vários outros mecanismos reprodutivos. Possui ainda cerca de 300 atividades desde a manutenção dos tecidos (pele, ossos e vasos sanguíneos), nas funções mnemônicas (memória e outras do cérebro) e em várias atividades metabólicas.

O estrona é uma versão atenuada de estradiol. Secretado pelas células de gordura e durante a gravidez, pela placenta, é o tipo que predomina na mulher na menopausa. Ele tem sua importância, mas não é tão poderoso quanto o estradiol.    

Outros hormônios

A menstruação se dá por um conjunto de hormônios liberados pelo hipotálamo, pela glândula pituitária (hipófise) ou devido a hormônios produzidos por estímulo destes. Destacam-se o Hormônio Folículo Estimulante, ou FSH e o Hormônio Luteinizante ou LH.

Nas mulheres eles agem em fases alternadas: o FSH entra na primeira metade do ciclo, para induzir os ovários a produzir estradiol, cuja concentração aumenta quando o óvulo está maduro; isto – o alto nível de estradiol – avisa à hipófise de que o trabalho foi feito e está na hora de parar a produção de FSH e lançar a segunda gonadotrofina na circulação: o LH, que ajuda o óvulo a romper a casca folicular para cair numa das trompas.

Quando falta o estradiol...

Quando os ovários reduzem suas atividades e a mulher entra no climatério, o índice de estradiol não aumenta porque não há óvulo pronto. Então a hipófise continua a produção de FSH, cujo índice se torna mais alto que o normal. Por ter propriedades estimulantes, o alto nível deste hormônio promove o famoso fogacho, típico do climatério.

Para se ter uma ideia da variação dos índices de FSH, este índice dobra considerando o período inicial do ciclo menstrual e a época da ovulação. No climatério, fica pelo menos cinco vezes maior. O nome já diz: folículo estimulante, daí os fogachos.

Com o FSH alto, a hipófise aumenta também a produção de LH acima dos índices que seriam normais apenas para o amadurecimento do óvulo.

Entenda: havendo aumento metabólico, haverá mais ácidos resultantes do metabolismo. Mais ácidos, mais o corpo utilizará o mecanismo da tamponagem para eliminá-los e diminuir o fogacho. Assim o climatério é uma fase de alto consumo de cálcio, que chega a reduzir as reservas deste mineral nos ossos.

Fala-se em perda de 1 a 1,5% de cálcio ao ano após os 40 anos de idade, para homens e mulheres. Durante o climatério, esta perda pode chegar a 6%. Entendeu a gravidade nos casos femininos?

Após entrar na menopausa...

O aumento metabólico promovido pelos hormônios já comentados facilita a queima da gordura, o que libera o estrona. Sim, na menopausa a mulher irá consumir suas gordurinhas - do peito e da celulite por exemplo - para produzir estrona.

Ora, mulheres maratonistas consumiram grande parte de suas celulites durante as práticas esportivas, logo, como não têm gorduras para queimar e produzir estrona, são mais propensas à osteoporose.

Por que tantos sites médicos afirmam que não se sabe a causa da osteoporose?

Ou seja, a famigerada celulite, desde que deslocada da obesidade mórbida, é um bem ao organismo feminino, mesmo que a grande maioria não a deseje. Cadê as campanhas esclarecedoras?

Assunto do curso de especialização Fisiologia em Recursos Antálgicos.

 

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