DRS.76

Síndrome do intestino irritável


Irritado fico eu quando ignoram que dores crônicas, sono irregular ou reduzido, estresse e muitas outras coisas prejudicam o funcionamento intestinal.

Todas as pessoas com desgaste emocional ou com sono irregular são altas candidatas a desregulamento intestinal. Quando o sintoma persiste, qualquer que seja o motivo, recebe este rótulo: SII. Que, como toda síndrome, passa a ser desnecessário pesquisar sua Etiologia e aplica-se o tratamento protocolado. Como um antitérmico em caso de febre, qualquer que seja a origem da febre. Mas febre ainda não virou síndrome.

Os intestinos funcionam bem a partir de uma combinação de neurônios, músculos e flora intestinal. Qualquer coisa que prejudique um destes pode afetar o seu funcionamento. E corrigir o mal é fundamental para a saúde. Ora, se apenas se observa a irritabilidade, sem investigar e corrigir o mal original, temos certeza que não estaremos utilizando os recursos mais indicados. A dificuldade em identificar o mal não deveria ser argumento suficiente para se padronizar e sindromizar o quadro.

O problema é que, como venho insistentemente acusando, ao colocarmos o rótulo, passamos aos protocolos que aliviam os sintomas. O motivo da SII? Passa a ser desnecessário pesquisar, especialmente se for outro fármaco como certos anticoncepcionais. Por isto creio que um terapeuta não deva considerar o quadro uma síndrome.

Entenda: síndromes de Down e de Jullian Barrê são efetivamente síndromes, não sintomas! SII, do sono irregular, do túnel do carpo e várias outras síndromes identificadas recentemente, não: são sintomas a vários quadros patológicos, já comentei aqui.

Mas antes de falarmos de alguma síndrome associada aos intestinos, falemos de seu funcionamento. Este depende de alguns fatores:

1) Músculos. Qualquer problema que afete o tônus muscular certamente afeta o funcionamento dos intestinos. Qualquer quadro que tencione ou relaxe por demasia os músculos costuma ter reação nos intestinos porque o peristaltismo (movimento intestinal que leva o bolo a frente até a evacuação) depende de músculos, é óbvio. Como problemas relacionados ao fígado e às ptoses viscerais, sono mal resolvido, esgotamento físico, mental ou emocional.

2) Neurônios. Certamente os intestinos também dependem de um bom funcionamento dos neurônios para o seu funcionamento. Assim qualquer problema que afete as sinapses ou os neurônios pode ter ação no funcionamento dos intestinos. Como as perturbações hormonais consequentes de noites mal dormidas, alimentação acidificante, anemia, processos inflamatórios como dor de dente, TPM, problemas hepáticos e renais, depressão... Não faltam patologias e quadros que podem afetar o peristaltismo. Até a febre.

3) Problema de coluna. Um fato agravante são os problemas de coluna. Praticamente todos os pulsos nervosos do organismo e das vísceras passam pela coluna para chegar ao cérebro e trocar informações. O acesso dos neurônios de uma víscera à medula também se dá pelos forames, pequenos espaços no disco da coluna. Hérnias de disco, prolapsos discais, artroses, estenoses, espondilolisteses, espondilite anquilosante e vários dos problemas na coluna ou imunológicos podem comprimir esses neurônios, lhes prejudicando as sinapses. Há ainda a possibilidade de haver compressão nervosa da medula (estenose de canal). Constantemente problemas viscerais, incluindo nos intestinos, são provocados por compressão de seus neurônios. Como esta possibilidade praticamente nunca é investigada, certamente será mais uma SII sem cura.

4) Outro fator importante para o peristaltismo é a flora intestinal. O álcool, certos anticoncepcionais orais, excesso proteico ou combinação proteica na alimentação, alguns medicamentos, a fauna intestinal e outras coisas podem afetar a flora intestinal, com ação nociva no funcionamento. Tudo SII, caso não se investigue um pouco mais.

5) Ptoses viscerais. Os intestinos não ficam apoiados nos músculos ou na pele do abdome. Eles são presos por alças intestinais às costelas. Com a idade, nossos músculos, inclusive estas alças, perdem parte de sua massa. Afrouxadas, as alças permitem uma expansão dos intestinos, que aumenta de volume e diâmetro – a barriguinha aumenta. Algumas chegam ao meio das coxas quando a pessoa está sentada. Erroneamente alguns pensam que estão a engordar já que a barriga está aumentando de volume. O problema é grave porque, com as alças esgarçadas, os intestinos passam a admitir um volume de armazenamento bem maior: é necessário um volume de bolo fecal maior para fazê-lo andar. Com a idade, ainda passamos a comer um volume menor de alimentos. Com isto demoramos mais vezes para ter vontade de ir ao banheiro. Mais tempo do bolo fecal nos intestinos gera perturbação da flora intestinal, o que também afeta negativamente o seu funcionamento.

6) Quadros emocionais. Estresse, cansaço, mágoas e as emoções negativas de forma geral têm ação direta nos hormônios que afetam o sistema nervoso, assim como nos quadros depressivos. Certamente isto tem ação negativa no peristaltismo, agravando o funcionamento dos intestinos. É fácil encontrar na internet textos que associam a serotonina ao peristaltismo. E muita coisa pode afetar ou inibir a produção deste hormônio. Há página na internet que afirma que o primeiro protocolo no tratamento da SII é a mudança de estilo de vida, o que levaria a uma diminuição do estresse e da ansiedade. E mesmo assim afirmam que a origem da SII não pode ser identificada.

7) Interação negativa. Como já vimos, todos os tópicos acima atuam agravando uns aos outros. Quanto mais se prejudicam as funções intestinais, mais ele pode ter sua flora prejudicada ou esgarçar. Como a ptose visceral e os divertículos, que só se resolvem com cirurgias, que por sua vez prejudicam o peristaltismo e a flora.

Conclusão

Flora intestinal, problemas de coluna, hábitos alimentares, problemas afetivos, distúrbios hormonais, febre, fármacos, em especial os antibióticos e anticoncepcionais orais, álcool, vida sedentária, enfim, muitos são os fatores que podem afetar o peristaltismo e a mucosa intestinal. Se a investigação primária não conseguir identificar o mal e corrigi-lo, basta por o rótulo de SII, SCI (síndrome do colon irritável) ou SRI (em inglês). Assim passamos à segunda etapa do tratamento: fármacos, geralmente. Ou certo iogurte com uma bactéria encontrada nos intestinos de bovinos, que consegue irritar por demais os intestinos e fazê-lo funcionar mesmo que anticoncepcionais estejam provocando a prisão de ventre.

Entre os quadros alcunhados de SII, um deles mereceria o título e ainda algumas subdivisões: o que é capaz de abrir feridas difíceis de cicatrizar. E diferenciá-lo pelo motivo: doença auto-imune, glúten, álcool, alguns fármacos, leite e derivados, cafeína, falta de certas vitaminas ou minerais, dermatite intestinal e a consequente dermatite atópica, cafeína... não faltam opções.

Tratamento pelo sintoma

Nada contra que se trate mesmo sem sabermos a origem. Sabendo os sintomas, regularmente já podemos ajudar. Mas o rótulo de síndrome, como venho regularmente acusando, simplifica e impede investigações que poderão ser fundamentais à cura do problema.

 

Sobre a sindromização.

 

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