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A Cultura nos aponta faltas e desejos


Aparentemente nossa sabedoria pessoal é influenciável por hábitos culturais. Ou não?

Imaginemos algumas situações nem tão fictícias

Caso 1. Meninas e adolescentes submetidas à crença que a função das meninas é serem, um dia, mães. Nestes casos lhes deram brinquedos como bonecas e miniatura de móveis domésticos para brincar e tomaram os cuidados para que todas as suas brincadeiras lúdicas fizessem inferência e referência a atividades domésticas. Também lhes cobraram auxílio diário nas tarefas domésticas e com os menores por toda a infância e adolescência. Estas atividades podem ter influência na sensação de falta, de incompletude, de insatisfação caso não venham a gerar ou adotar filhos?

Caso 2. Crianças tratadas desde a tenra idade como pequenos adultos. Inclusive suas vestes imitavam as de adultos, assim como as brincadeiras. Num dos casos, as crianças da família numa zona rural recebiam uma enxada mirim ao completar oito anos. E todos os menores aguardavam ansiosos este aniversário, quando poderiam passar a cuidar da horta doméstica. Em outro, os menores eram levados ao trabalho ou empresa dos pais com regularidade. Estas experiências podem ter influência no fato de essas pessoas, quando adultas, valorizarem mais ao seu trabalho e emprego que a si mesmas?

Caso 3. Crianças que brincam com armas de brinquedo, de forte apache, de polícia e ladrão e de caçada a animais, além de acompanhar os pais em pescarias. Ou que assistem programas televisivos em que pessoas morrem em série. Isto pode facilitar alguma frieza emocional com a morte de outros seres humanos?

Caso 4. Crianças passam toda a infância assistindo programas de televisão e filmes que apresentam o pai do protagonista bondoso e tolo. Isto faria a sensação geral de que todos os pais são menos inteligentes que esses, seus filhos?

Afinal, as brincadeiras e jogos infantis, assim como os saberes passados a elas, podem influenciar as crenças, desejos e atitudes quando adultos?

Talvez, nesta resposta, esteja o motivo de a Educação não ser apenas um direito constitucional, mas uma obrigação. A Constituição garante uma relação de direitos: à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade e ao trabalho. E, no caso de crianças e adolescentes, complementa ainda com os direitos à alimentação, ao lazer, à educação, à dignidade, às convivências familiar e comunitária, à cultura e ao esporte. Mas apenas a Educação não é apenas um direito, mas uma obrigação: pode até haver perda de guarda da criança ou do adolescente se não for encaminhado às aulas conforme diretrizes globais.

Conclusão

Após contextualizar e refletir com estas possibilidades, podemos concordar ou não com a expressão em epígrafe: a Cultura nos aponta nossas faltas e desejos?

 

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