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Senso crítico é sinal de inteligência?


Percebo que em muitos ambientes o senso crítico está associado à inteligência e o comum, à burrice.

O que você entende por senso comum? E por senso crítico? Não pule esta conceituação, pesquise.

Reflexão 01. O que seriam os sensos crítico e comum?

Observe que estes dois conceitos se destacam na Escola Nova. O senso crítico é apresentado como indicativo de inteligência, e o senso comum, como o resultado das tradições e cultura. Cabendo implicitamente aos inteligentes a obrigação de se contraporem ao senso comum (suas próprias tradições, cultura e, por tabela, seus antepassados). Por favor, pesquise estes conceitos na internet, apesar de eu ter colado uma das páginas abaixo.

Senso crítico e senso comum em acordo com https://www.significados.com.br/senso-critico.

“Senso crítico significa a capacidade de questionar e analisar de forma racional e inteligente. Através do senso crítico, o homem aprende a buscar a verdade questionando e refletindo profundamente sobre cada assunto.”

A palavra “crítica” vem do Grego “kritikos”, que significa “a capacidade de fazer julgamentos”. No sentido filosófico, o senso crítico prende-se com o desenvolvimento de uma consciência reflexiva baseada no “eu” (autocrítica) e no mundo.

A consciência do papel social de cada indivíduo promove a capacidade de pensar sobre as verdades impostas pela sociedade dominante. Dessa forma, alguém com senso crítico aguçado não aceita a imposição de qualquer tradição, dogma ou comportamento sem antes questionar.

A capacidade de refletir sobre os assuntos está relacionada com a educação recebida por cada indivíduo. Existe uma ideologia dominante (conjunto de crenças, valores e opiniões) veiculada na política, religião, meios de comunicação ou outros grupos, que procura manipular as pessoas para que não questionem; para que aceitem o que lhes for imposto sem ponderar ou investigar a verdade.”

Reflexão. Sem usar a palavra burrice associam tradições aceitas como verdades e sem questionamentos ao senso comum. De acordo com o mesmo site:

“Senso comum é um conjunto de opiniões, crenças, tradições e modos de viver que se desenvolvem em uma sociedade e faz parte da herança cultural de cada povo. São as tradições que passam de geração em geração e são aceitas como verdades, sem questionamentos.”

Leia também:

·                   https://www.todoestudo.com.br/sociologia/senso-critico.

·                   https://www.dicio.com.br/senso-comum/.

 

Após algumas pesquisas, você chegará à conclusão que:

Senso crítico significa a capacidade de questionar e analisar de forma inteligente. Senso comum é crenças passadas de geração em geração com ares de verdades e sem questionamentos. Fica claro que pessoas inteligentes (com senso crítico) não devem aceitar o que é imposto pelas tradições e antecessores, logo, devem combatê-los.

Por definição as tradições são impostas, sem fundamentação, sem questionamentos. Logo, contestar tradições e antepassados seria sinal de inteligência e característica do senso crítico.

Isto fortalece certo comportamento atual, a polarização, tão importante no controle social: pessoas criticam tudo e todos, apesar de não terem se aprofundado no assunto nem se esforçarem em compreendê-lo. Críticos sem preparo, fora da área, apenas com a certeza que criticar é sinal de inteligência.

Até já comentei em certo texto sobre burrice, o quanto pessoas emburrecidas simplesmente se atribuem o direito natural de avaliar, criticar, interpretar, julgar e condenar outras pessoas, crenças, culturas e ideologias, pouco se importando com seus argumentos de defesa ou com a própria qualificação. E se sentem muito inteligentes assim agindo, o que reconhecem como senso crítico, daí a necessidade de revisão nestes conceitos.

Reflexão 02. Porque alteraram o conceito de senso comum?

Toda palavra ou expressão de uso popular tem seu conceito, seu senso comum. Como inveja, igreja, árvore, pneu, arrogância e todas as outras palavras, todas são sensos comuns, inclusive senso crítico e senso comum. A comunicação é uma produção em comum, logo, várias pessoas participam através do tempo e da Cultura. Penso ser lógico que várias pessoas opinam, algumas com senso crítico, outras com criatividade, existem os poetas e há os que defendem os conceitos tradicionais até que o senso comum seja mais ou menos comum, até a próxima vez que resolverem questioná-lo ou aprimorá-lo. Todos os conceitos populares são obrigatoriamente sensos comuns, elaborados pela cultura e confirmados ou atualizados pelos seus membros atuais. Repito, mesmo o conceito de senso crítico e senso comum são conceitos sempre em atualização.

Por que reduziram e enrijeceram o conceito de senso comum? Ora, senso comum é um saber sempre em mutação, sempre se atualizando. Porque tentam passar a ideia que é um conceito rígido e, ainda por cima, ultrapassado? Como professores de Português e de História deixam passar tamanho absurdo? Apenas para aumentar a antipatia entre gerações e culturas? Não consigo perceber outra finalidade.

Reflexão 03. Os sensos comuns eram rígidos?

Sabemos que os conceitos costumam sofrer alterações no sentido e até na escrita com o passar dos anos. Se avaliarmos as palavras que usamos e sua origem, conferiremos que até o sentido pode ter sofrido alteração – o que só se faria pelos sensos críticos, até chegarem a um novo senso comum. Pessoalmente posso relacionar centenas.

Ou tudo que é tradicional sempre foi aceito como verdade, sem questionamentos, sem revisões, sem melhorias? Então a geração atual é a única que renovou conceitos e comportamentos pela crítica? As tradições sempre foram impostas por dominadores, nunca houve capacidade de questionar e analisar de forma inteligente na formação dos sensos comuns? Alguns conceitos atuais, como os de senso crítico e comum, foram impostos, nunca houve busca pela verdade questionando e refletindo profundamente sobre o assunto? Falta coerência aqui!

Os conceitos atuais de senso crítico e senso comum, esses copiados da web. Quem os definiu se não um grupo que tem interesse neles? Tenho certeza de que ao tempo do meu ginásio o senso comum era o resultado dos saberes antigos mais os argumentos e sensos críticos sobre algum assunto. Eu não estava lá quando chegaram à conclusão de que senso crítico se contrapõe ao senso comum. Você estava?

Então os antigos, por terem senso comum passado de geração em geração, não tinham senso crítico – não questionavam e aprimoravam o saber, não buscavam a verdade, não eram inteligentes? Os primeiros pensadores inteligentes vieram nas gerações atuais?

Como produzir um conceito no passado ou no presente, como os conceitos de senso comum e crítico, sem que haja senso crítico e se chegue ao senso comum? Como produzir o conceito de senso comum sem que seja o resultado de alguns sensos críticos?

Onde está a falha?

Se estudarmos só os pré-socráticos, veremos muitas teorias diferentes que criticavam as anteriores ou as de outras escolas. Se estudarmos geração a geração, veremos que sempre houve quem questionasse os saberes antigos e os renovasse, todo povo teve seus pensadores e revolucionários.

Sabemos que os saberes de cada povo sempre foram altamente influenciados pelas tradições, logo, sempre houve alterações e críticas aos conceitos.

Também sabemos que a cultura atual não é mais prioritariamente passada pelos antepassados, mas pelas mídias e pela Educação, que regularmente tentam eliminar os concorrentes (tradições e família) do processo de formação dos saberes, desejos e comportamentos.

Você caiu nessa?

Estamos concentrando renda e poder nas mãos de um grupo ínfimo, formando uma sociedade de pessoas emburrecidas, empobrecidas, agressivas e doentes psicologicamente. Não podemos negar: as pessoas estão empobrecendo, emburrecendo, adoecendo psicologicamente e ficando mais agressivas com os seus conterrâneos e antepassados, apesar de tantos se considerarem inteligentes e com senso crítico. Nunca tivemos tantas pessoas defendendo esse senso como nunca tivemos a Educação tão voltada a formar pessoas críticas, mas sem conteúdo. Sim, o conteúdo vem sendo notoriamente diminuído.

Mudar é a regra

Todas as gerações, por todos os tempos, sempre procuraram fazer melhor que seus pais. As novas gerações não são as primeiras. Talvez estejam entre as primeiras que, em vez de fazer melhor que seus pais e aprimorarem a própria cultura, se empenhem de destruir os vestígios do próprio povo e se envergonhe de suas origens e tradições. Mas ainda não me convenceram que isto é bom e necessário, pois vejo que facilita a dominação e exploração de seu país: é ferramenta de nebulização.

Repetindo: não pretendo tecer louvores às tradições, também tenho minhas reservas com o politicamente incorreto. Mas a forma como estamos a praticar inteligência – apenas desprezando os saberes dos antepassados e sua cultura, suas experiências, sensos comuns e senso críticos – me parece um engano, uma abordagem manipulada com objetivos nebulosos. Uma forma de aceitarmos a cultura que não vêm dos antepassados, mas pelas mídias e pela Educação, ambos manipulados pelo Grande Capital, como superior, identificada com a verdade e a crítica.

Reflexão 04. Nunca fomos tão críticos

Nunca fomos tão críticos. Mas só com os antepassados e conterrâneos. Amando primeiro a si mesmo, merecendo tudo de bom, valorizando a si o máximo possível, evitando pessoas tóxicas e todas as críticas possíveis, evitando autocorreções e admoestações. Certo é que as críticas são voltadas aos outros, em especial aos antepassados e progenitores, nunca a si próprio. Quando vemos postagens falando de autodesenvolvimento, sempre é para os outros!

Reflexão 05. Onde se aplica o senso crítico?

Pelo conceito de senso crítico este senso se aplicaria nos saberes que nos passam. Recebemos informações da cultura, dos antepassados, das mídias, da Educação e outros locais. Senso crítico seria aplicado nesse saber, que deveríamos questionar e analisar de forma racional e inteligente. Através do senso crítico, o homem aprende a buscar a verdade questionando e refletindo profundamente sobre cada assunto.

Ora, não é isso que ocorre. O que vemos não são pessoas avaliando o saber que lhes oferecem, refletindo profundamente e buscando fundamentação e a verdade. O que temos é um grupo que acusa os que pensam diferente ou as gerações mais antigas de não ter fundamentação, de ser politicamente incorreto, de erros, de enganos. Afirma que seus argumentos e provas são todos falsos e plantados. Não há, de fato, investigação, só acusações! Não há nem estudo, nem preparação, nem qualificação. Criticar, acusar, discordar, depreciar e negar são o que vemos sob o tal manto do senso crítico.

Onde estamos falhando?

Penso que há três bons indicativos que as pessoas fazem críticas impróprias ou precipitadamente.

1) O pseudocrítico, ao ouvir qualquer comentário, conclui: esse saber é típico em pessoas (escolha a expressão:) liberais com ímpetos fascistas e misóginos, brancas de ideologia escravagista, machos porcos chovinistas, gado da doutrinação judaico-cristão, jumentos socialistas, comunistas idiotizados, ou algo assim. A pessoa emburrecida não se atenta com a informação, mas à priori procura destituir quem a forneceu.  

2) O crítico, perante informação de sua contraparte, utiliza logo de início as palavras gostei ou concordo. As frases que iniciam diálogos visam sugerir e introduzir um tema. Se logo ao início uma das partes já profere expressões sobre gostar ou concordar, fica claro que ela não está nivelada, prestando atenção ao assunto, mas se arrogou o direito de avaliar e julgar tanto o orador quanto a sua fala.

Quando alguém apresenta uma contraparte, um questionamento, um argumento, enfim, uma informação, o que a pessoa espera primeiro é que o outro entenda. Como professor, é exatamente isto que pretendo quando ministro uma aula: compreensão por parte do ouvinte. Logo, o que espero ouvir é a expressão entendi! Ou não entendi. Só após ele ter entendido a mensagem é que pode e deve questionar, avaliar e emitir suas avaliações.

Mas o que ouvimos logo ao início da aula, sempre antes mesmo de algum tema, é: gostei! Não gostei! Concordo! Não concordo! Muitos professores percebemos que a compreensão foi substituída pela avaliação.

3) Pessoas sem qualificação desprezam a opinião de pessoas qualificadas e emitem a sua em discordância com o profissional ou estudioso com toda a certeza de estarem certos, e elas, erradas.

Reflexão 06. Tradições ou o politicamente correto?

Que fique claro que não defendo as tradições, tenho certeza que questionar saberes que nos chegam é de fato sinal de inteligência. Mas há falhas na conceituação atual do que seja senso comum e crítico e clara manipulação na contraposição entre esses dois sensos. A inovação conceitual, que deveria redimir as falhas antigas, acaba por criar outras ainda maiores. E há resistência até em perceber isto.

Foggy News?

Os novos conceitos cumprem, por definição, algumas das condições de Foggy News: tem o objetivo nebuloso de promover a agressividade intergrupos (antigas e novas gerações), além do emburrecimento (perda do senso crítico em relação aos conceitos de senso crítico e senso comum).

Senso crítico reflexivo – clique!

 

O senso comum é arbitrário, tradicional e politicamente incorreto? http://www.ibted.org.br/Html/textos8/pnsensocomum.html