SP02.13e

O dono da verdade


O dono da verdade é uma acusação falaciosa.

Quando duas pessoas estão num embate, cada uma delas acredita que está com a razão, que defende a verdade e a justiça, logo, ambos os envolvidos acreditam que estão certos, ou não entrariam no embate. Logo, os dois iniciam como os donos da verdade, caso contrário não defenderiam sua posição e não haveria a dialética. 

Num embate saudável, as partes utilizam argumentos para convencer a contraparte, e ambas deveriam ponderar os argumentos e contra-argumentos.

Em determinado momento, uma delas acusa o seu par de dono da verdade. Ora, quais seriam os motivos para isto? Apenas dois:

A contraparte não soube contra-argumentar e repetiu argumentos, geralmente chavões populares, mostrando incapacidade de derrubar o último argumento.

A própria pessoa ficou sem resposta, não conseguiu contra-argumentar. E se utiliza da frase você é o dono da verdade para desviar o assunto principal para um homem de palha (da falácia com este nome).

Normalmente o argumentador mais bem ferramentado tem mais trunfos na manga, não precisa da falácia. Minha experiência também comprova: quem acusa a contraparte de dono da verdade é justamente a pessoa que teve seus argumentos e contra-argumentos esgotados, daí a necessidade de trocar o tema do embate. E, tolamente, não se dá conta que está justamente tomando mais uma posição de dono da verdade. 

Perceba: ao acusar a contraparte, o acusador, inocentemente, se coloca como vencedor do embate, porque o outro, por ser o dono da verdade, está se recusando a ceder à sua luz. E não percebe que é ele mesmo que toma duplamente esta posição: no embate e com a falácia.

Conclusão: quem acusa alguém de dono da verdade, é quem, duplamente, está nesta posição.

 

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