IB03.207

O emburrecido se precipita no senso crítico


Leitura anterior: sinais ou condições de antenalidade.

No texto lincado acima, comentei que o foco num embate deve ser o tema, não as pessoas envolvidas. E que constitui desvio de foco quando uma das partes se precipita e arroga o direito de avaliar e julgar a outra parte ou o próprio tema, pensando que isto é o senso crítico, mas não passa de sinal de burrice.

Senso crítico é atividade intelectual após a compreensão do tema do diálogo ou embate.  A avaliação do conceito de senso crítico deixa isto claro. 

De acordo com o dicionário Aurélio e textos da internet, senso crítico é a “capacidade de analisar, refletir ou buscar informações antes de tirar uma conclusão. É a tendência de quem não aceita automaticamente o que lhe é dito ou imposto”. Para tanto, é necessário que a pessoa compreenda a mensagem e seus argumentos, para então aplicar o senso. Mas não é o que vemos. Na prática, pessoas emburrecidas, perante qualquer informação que não lhe seja agradável, afirmam: seu saber é constituído a partir de sua Cultura, logo, está contaminado e deve ser desprezado. Ignorando totalmente que o seu próprio saber, como todos os outros, está localizado em alguma Cultura.

Antes de compreender o argumento, o uso do senso crítico é sinal de burrice por definição de senso crítico e burrice.

Ao alegar: seu saber é constituído a partir de certa Cultura, e, a partir disto, ignorar o assunto, não é só sinal de emburrecimento, mas de falta de senso crítico.

Os diálogos, conversas, embates e cursos possuem um tema a ser desenvolvido. E certamente cada parte deve ter noção de seu contexto, utilidade e função. Portanto, o senso crítico é ferramenta aplicável, recomendável e útil. Mas existe um momento certo e um campo restrito para aplicá-lo. Uma pessoa emburrecida se precipita e amplia a aplicação.

Momento de aplicação do senso crítico

O senso crítico só é bem-vindo após o amadurecimento do tema. Todo diálogo tem, além dos participantes, um tema, um assunto a ser desenvolvido. Informar algo, ensinar técnicas, participar vivências, dirimir dúvidas e dissipar atritos podem ser o tema. Vamos utilizar os casos em que duas pessoas têm ideias e posturas diferentes em relação a um mesmo tema, não concordam sobre algo, e partem para um embate.

O que esperamos é, primeiro, o diálogo, a colocação de ideias e argumentos, ambos nivelados e considerados pela contraparte. Assim ambos podem compreender o outro, rever seus argumentos e colaborar com a correção dos saberes. Concluída a conversa ou embate, agora já com mais conhecimento, é o momento de aplicar o senso crítico: localizar culturalmente, avaliar utilidades e identificar interesses de modo a decidir se deve aceitar, discordar, defender ou absorver o tema. Tudo isto sem precisar arrogar a si o direito de avaliar, julgar, ofender ou depreciar a contraparte.   

Erros de aplicação do senso crítico

Isto posto,

1) É sinal de burrice quando uma das partes, em vez de se submeter ao diálogo e compreender o tema e os argumentos da contraparte, arroga precipitadamente a si o direito de avaliar a outra parte e o tema. Especialmente quando a conclusão é: tanto o orador quanto o tema estão inseridos num contexto cultural! Ora, todo diálogo está, todo saber está, todo pensamento está, toda verdade está, as crenças e as opiniões de quem falou isso também estão! Se alguém consegue pensar uma frase, esta frase está em alguma língua ou dialeto e, consequentemente, está inscrita em alguma cultura. Isto não é uma acusação, mas uma constatação. E não deveria ser utilizada para suprimir o embate saudável. Todos os participantes e seus temas estão inseridos culturalmente, bom quem tem este conhecimento, tolo quem acusa a contraparte sem reconhecer o seu próprio discurso como cultural. Aprender e se desenvolver também estão inseridos culturalmente.

2) Também é sinal de burrice quando uma das partes resolve aplicar críticas precipitadamente, antes de avaliar argumentos, como se isto fosse senso crítico. Em nome de tirar dúvidas, contestações são colocadas antes de o orador terminar sua preleção.

Resumindo. Erro crasso com o senso crítico é quando o pseudo-inteligente identifica que todos os saberes do outro estão sob influência cultural, mas não percebe que sempre é assim, inclusive com os seus próprios saberes. E que o desenvolvimento do tema pode e deve ocorrer mesmo assim, pois é assim que se atualizam os saberes. 

Sobre ser avaliado

Ninguém gosta de ser avaliado, não costumamos permitir este direito a ninguém. Mas regularmente nos atribuímos o direito natural de avaliar, criticar, interpretar, julgar e condenar outras pessoas, crenças, culturas e ideologias, pouco nos importando com seus argumentos. Atitude grotesca, mal-educada, tola e inocente útil, pois assim atende aos interesses de controle social.

E ainda chamam isto de senso crítico! Como associamos este senso à inteligência, estas pessoas se consideram muito, muito inteligentes com a arrogância. O que certamente é do interesse do Sistema, pois fortalece a polarização. Apenas inocentes.

O que nos falta? O que nos induz a nos arrogar o direito de avaliar as outras pessoas? Há várias possibilidades, algumas desenvolvidas a partir do texto Requisitos para a antenalidade. Mas, o mais importante, é saber que o Sistema tem largo interesse nisto.

 

Senso crítico é sinal de inteligência? Em: http://www.ibted.org.br/html/textos8/pnsensocritico.html.

 

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