AI00.10

Colonização mundial


Recolonização, agora do mundo

Há um grupo multinacional comprando bens e governos pelo mundo, capitalizando e se empoderando. Seus empreendimentos aumentam de valor enquanto o resto do mundo empobrece: países, governos e a população em geral estão perdendo riquezas e poderes.

Quando utilizo as palavras suprarricos, supracapital ou supracapitalista, é a esse grupo que me refiro: aparentam estar acima da dicotomia e disputa entre o capitalismo e o comunismo/socialismo do início do século XX. E são como colonizadores.

Como as mudanças culturais, a polarização, o emburrecimento e a despotencialização das populações podem e costumam estar associados aos interesses desse mesmo grupo, convém algumas observações.

De quase tudo que no mundo é produzido, uma parte vai para as mãos desses ricaços além-fronteiras com as garantias e proteção do governo local. Não é isto que configura a colonização? Produz-se, explora-se e presta-se serviços num território conforme interesses externos. Parte dos valores, riquezas e matérias primas são enviadas além-fronteiras enquanto o governo, as leis locais e a ONU garantem o mecanismo, sob o policiamento das mídias internas e internacionais, o apoio das grandes redes e até da população local. Isto está na base de tudo que ocorre no mundo, por isto chamamos de Sistema.

No Brasil, por exemplo, já vendemos boa parte da nossa Vale e de muitas outras de nossas empresas. Também cedemos a estrangeiros a concessão de serviços como os de telefonia, água, manutenção de estradas, eletricidade e tantos outros. Estamos a ponto de ceder até a posse de nossas terras produtivas a empresas estrangeiras. Assunto delicado porque nosso governo prioriza vender as matérias primas, não os produtos, como é do interesse do colonizador. Raros os empreendimentos nacionais que não repassam parte dos lucros a multinacionais.

Há vantagens?

Sei das vantagens disto: o capital que entra gera muitos empregos e lucros por aqui. Bom, é o que dizem. Eu teria mais fé nesta informação se a América do Sul não estivesse empobrecendo (acesse o link). Eu não estranharia se essa afirmação (que há vantagens no capital externo investindo no Brasil) fosse classificada como uma falácia repetição à exaustão (ad nauseam).

Características da prática colonialista, já foi assim no passado.

1) O lucro que sai tem prioridade sobre o bem-estar dos conterrâneos, como neste caso. Só são garantidos os benefícios às multinacionais, os da população costumam ser oferecidos, aplicados, revistos e, a seu tempo, abreviados ou até cancelados. Mas só registram e divulgam os benefícios da colonização. Ninguém reparou ou mensurou que benesses até ocorrem com regularidade, para em seguida serem questionadas e reduzidas, assim como o empreendedorismo e outras potencialidades?

2) Prioriza-se a exportação de matérias primas das colônias, não o beneficiamento delas. Por isto escolhi apontar o sistema como colonialista. Empresas internacionais preferem comprar produtos não beneficiados. E o governo local arranja argumentos para não facilitar o beneficiamento regional, como a falta de capital ou de tecnologia. Como o da castanha de caju no país mais pobre do mundo, Guiné-Bissau. Assim como o Brasil, que se concentra na venda do ferro gusa (prioriza só beneficiamento inicial do minério de ferro e o exporta como ferro gusa, deixando, em represas por aqui, os resíduos tóxicos do beneficiamento inicial). Não faltam argumentos para que não haja investimentos em refinarias. Como a Venezuela, que continua exportando petróleo, mas não o beneficia suficientemente nem para o consumo local.

3) As supostas vantagens do capital entrando no país gerando renda e melhorias não parecem efetivas, mas é narrativa regular. Afinal os países desta região, tanto os de esquerda quanto os de direita, cada vez mais, participam de grupos e negócios internacionais, recebem capital externo, seja da China, da UE, ou dos EUA e defendem essa narrativa. Garantidos mesmo, só os interesses de quem leva riquezas e dos governantes locais, porque regularmente os problemas e a pobreza local aumentam, como mostra o gráfico. O que nos faz voltar à nossa premissa inicial: há um grupo comprando bens e governos pelo mundo enquanto o resto empobrece.

4) Os governantes, o judiciário, as próprias populações globalizadas e principalmente as mídias têm investido nesse novo modelo social: a globalização. Frisando: as próprias populações locais desejam perder a identidade cultural porque aprenderam que assim é melhor. Afinal, o patriotismo poderia atrapalhar os interesses externos.

É neste cenário que aparece o inocente útil. Qualquer que seja a sua formação, classe social, idade, origem ou opções de vida, os inocentes se reconhecem como os mais bem informados, mais qualificados, mais politizados, críticos contumazes, mais meritosos, com mais autoestima, conectados, convictos, cheios de saberes e essencialmente contra o Sistema, a exploração, a concentração de renda, os abusos de autoridade, o machismo, o racismo, a escravidão, a falta de respeito e tantos outros desvios de conduta e crimes. Paladinos militantes, mas infelizmente quase sempre enganados por crenças nebulosas inocentes e populares: acreditam fielmente que não estão contaminados por crenças populares.

Pesquisas

·        Quem financia a ONU?

·        Quem financia a UNESCO?

·        Quem financia a instituição que influencia a Escola Nova?

·        Quem financia as mídias?

Considere nomear pessoas, não Estados, empresas ou outras entidades.

Conclua se esses financiadores estão interessados:

1.   No bem da população.

2.   Em seus próprios ganhos e poder.

Explique por que tantos de nós nos identificamos como os beneficiários finais dos projetos e intentos globais? Considere a tendência natural que temos à polarização: localizamos tudo de ruim de um lado, e a nós, nossa intenção e nossa identidade, ao outro lado, ao dos bons.

Recolonização?

Sabemos dos sinais de capitalismo, de socialismo, de comunismo e de populismo nos governos atuais. Mas destaquei e destaco os do colonialismo porque, acredito, é o sistema mais próximo do atual. Que fique claro que o importante é apontar o quanto interessa, ao capital externo, a polarização interna e outros sinais no contexto atual, não a classificação do sistema de governo em si.

 

Continuação dos textos introdutórios: sobre o contexto atual.