Por que Hipócrates é o
pai da Medicina, não um chinês? |
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Aprendemos
que Hipócrates é o pai da Medicina e que viveu no século IV a.C. Mas os
livros de Medicina Chinesa relatam médicos chineses há cinco mil anos ou
mais. Não seria hora de corrigir o erro e dar o crédito a quem de direito
merece? Ou
talvez o título deva ser dado a um egípcio: o sacerdote egípcio Ankmahor, em cuja tumba foi encontrada uma gravura de
massagem nos pés e nas mãos (escravos massageando egípcios) e que até agora é
a mais antiga referência de cunho terapêutico encontrada. Quem,
de fato, deve receber o título de médico? Sacerdotes egípcios? Sacerdotes
chineses? Curandeiros indígenas? Ou Hipócrates mesmo? A
resposta a esta questão reverte à outra: Quais as diferenças entre Medicina e
Curandeirismo? Sabemos
que Hipócrates foi escolhido para ser o pai da Medicina, pena que poucos
saibam por quê. Na Grécia até a época de Hipócrates e na China até o século
XIII D.C., todas as patologias eram associadas a entidades: seres malignos
seriam responsáveis pelas doenças. Por isto apenas sacerdotes, curandeiros,
bruxas e pajés tratavam doentes: procuravam, com seus recursos, exorcizar um
demônio, uma entidade maligna, supostamente responsável pelo mal - sintoma ou
doença. Como o
demônio do Fogo no caso da febre, o demônio do Vento no caso da TPM, o
demônio da Terra no caso da hanseníase e assim por diante. Uma pessoa com
febre era tida como uma pessoa incorporada pelo demônio do Fogo, assim apenas
pajés, curandeiros e sacerdotes se envolviam com a cura. É isto
que difere medicina antiga de curandeirismo: a segunda trata males e doenças
como atividades de entidades malignas, a outra, não. Quando,
na história, apareceu um técnico que tratava patologias e quadros clínicos
sem ser sacerdote ou pajé, ou seja, sem fazer alusão a entidades malignas?
Por enquanto a História confere que foi na Grécia, no século IV a.C. e o
primeiro a escrever sobre isto foi Hipócrates, o que lhe rendeu o título de Pai da Medicina. Quanto
à China, aparentemente o corte paradigmático foi entre os séculos XIV e XV.
Mesmo até o século XVIII, ainda chineses que defendiam que todos os males,
inclusive catástrofes, má sorte e doenças, se davam pelo Grande Mal. Assim,
para ser chamado de médico, é necessário não confundir técnicas de exorcismo
e equivalentes com técnicas de cura, mesmo que os objetivos sejam os mesmos:
curar um sintoma. É obrigatório ver um
mal ou patologia, pelo menos uma energia negativa e não mais uma entidade
maligna incorporada, para o tratador receber o título de médico. Deveria ser
assim. Mas não é. Nos
textos atuais da MTC (Medicina Tradicional Chinesa) as entidades malignas -
vento, calor, fleuma, frio e outras - são tratadas agora como agressores.
Assim o fato de terem sido considerados espíritos malignos fica abafado. Tudo
bem, mas aí os curandeiros antigos passam a ser chamados incorretamente de
médicos. Sem malícia? Sei... Sacerdotes, aqueles que assessoravam e tratavam
do imperador e da corte, também são chamados de médicos na atualidade.
Faculdade, curso ou estabelecimento de Medicina com mais de 2500 anos, a
História ainda não registrou. Chego à conclusão que
deviam ser lá pelas bandas do castelo de Grayscull
ou talvez ao lado de Hogwarts. O
primeiro jogador de futebol não foi o homem primitivo que chutou uma fruta
redonda. Para ser jogador tem de ter outro tipo de preparo e envolvimento com
a bola. O primeiro fisioterapeuta não foi o primeiro homem a ajudar outro a
andar porque estava com dores nos joelhos! O primeiro guia turístico não foi
o primeiro homem a fazer um trajeto que ele já conhecia e os outros, não.
Para receber um título, é necessário certo nível de conhecimento ou prática,
não apenas se envolver com o mesmo objeto. Ou todo mundo que saber nadar é um
professor de Educação Física com especialidade em natação? Todo mundo que
cuida da própria saúde é médico, como alguns querem crer? Todos que esfregam
o local da dor são massagistas? Aí então teremos médicos chineses com cinco
mil anos. Caso contrário, não. A quem
interessa esse pequeno deslize? Voltar
à relação de textos Enganos e Lendas da
MTC. Ou não. |
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