Agulhas de bambu ou
de espinha de peixe? |
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Reza a lenda: antigamente as agulhas de acupuntura eram feitas de
espinha de peixe ou de farpas de bambu. Afirmam
que a acupuntura é praticada na China há cinco mil anos ou mais. Como seriam
as agulhas, se naquela época não havia aço? Para responder esta questão algum
defensor da MTC me afirmou que, na China antiga, as agulhas eram
confeccionadas com farpas de bambu ou espinhas de peixe. Como
bambu e peixe são materiais orgânicos e de fácil decomposição, justifica-se
que não haja nenhuma agulha antiga para comprovar a asserção. Tudo
bem, sem agulhas para comprovar. Mas também nenhuma gravura ou manuscrito
falando em como confeccionar ou mesmo utilizar essas agulhas? Esta
informação - que a acupuntura antiga era com farpas de bambu e agulhas de aço
- não era encontrada em obras na década de 98 e 90. Atualmente já há obras
com ela. A
primeira referência chinesa especificamente a agulhas de acupuntura (sangria)
é numa obra do século XIV. E é fácil perceber que se trata de sangria. No
início do século XVII encontramos o Zheng Dacheng,
Compêndio de Acupuntura e Moxabustão, compilado em 1601, que registra gravura
e como aplicar nove tipos de agulhas. Figura abaixo e à esquerda. Não
é preciso ser um médico historiador para percebermos que tratam de agulhas
para sangria. Mesmo as agulhas que se assemelham às atuais (a segunda, a
terceira e a sétima), sabemos que são mais robustas que estas simplesmente
porque não havia tecnologia suficiente na época para que fossem tão finas. O tratado fala de como
tratar (limpar e esterilizar) as agulhas. Coerente com a técnica de sangria,
não? |
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Quem
concluiu que as agulhas antigas eram de espinha de peixe ou bambu? Que obra
antiga ou artefato registrou isto? Quase
nenhuma obra atual e nenhuma das antigas se referenciam a agulhas de bambu ou
espinha de peixe. Outra
coisa que me faz duvidar de que as agulhas de acupuntura eram feitas de
espinha de peixe ou bambu é o meu conhecimento de Fisiologia. Já listei uma
dúzia de reações positivas à inserção de uma agulha em acordo com a
Fisiologia. Mas estas reações não seriam positivas se as agulhas fossem de
material orgânico. Mesmo que devidamente esterilizados, produtos orgânicos
inseridos no organismo humano não provocariam os efeitos positivos que as
agulhas de aço eliciam. Pelo contrário, estes produtos seriam responsáveis
por reações histamínicas desfavoráveis às reações de cura. Tanto que ninguém fabrica, nem na China, agulhas de espinha de peixe ou de
farpa de bambu. Mesmo
assim vamos à internet pesquisar a história das agulhas. Ops, não há registro de
agulhas de acupuntura anterior ao século XX. Pesquisando agulha, o registro
mais antigo se refere a agulha de ferro para costura. Até
porque a idade dos metais, na China, começou por volta de 1800 aC. http://www.coladaweb.com/historia/idade-dos-metais:
Chama-se idade dos metais o período
caracterizado pela generalização do uso de instrumentos metálicos... a
pré-história pode ser ordenada em estágios sucessivos de desenvolvimento
tecnológico, segundo os instrumentos empregados. Assim, à idade da pedra se
segue a idade dos metais, que abrange as idades do bronze e do ferro. No
entanto, o conhecimento dos metais não ocorreu simultaneamente nas diferentes
regiões do mundo antigo. Na Grécia, por exemplo, a idade dos metais
começou antes de 3000 a.C., enquanto na China isso se deu por volta de
1800 a.C.
Em
outro site: as agulhas de metal somente foram encontradas a partir
do século III a.C, em Manching, Alemanha,
região ocupada pelos Celtas. E para costura, não para sangria. Agulhas
de ferro não têm diâmetro compatível com a acupuntura, no máximo com
sangrias. E não existiam há 3000 anos. http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7o: A fabricação de ferro teve início na Anatólia, cerca de 2000 a.C. tendo sido a Idade do
Ferro plenamente
estabelecida por volta de 1000 a.C.. Neste período a tecnologia da fabricação do
ferro espalhou-se pelo mundo. Em, aproximadamente, 500 a.C., chegou às fronteiras orientais da Europa e por volta de 400 a.C. chegou à China. Bom,
desnecessário lembrar que agulhas primitivas de costura não serviriam para
eliciar os resultados das atuais agulhas de acupuntura. Informação altamente tendenciosa Há
obra que mostra uma pedra polida e afirmam que se trata de uma agulha do
tempo da Pedra Polida. Como nesta época a escrita ainda não existia,
especulam que serviriam como as agulhas atuais. Não preciso de um paquímetro
para saber que uma agulha de pedra provoca um rombo no tecido. A perfuração
provoca sangramento, que até é terapêutico, mas não é como a acupuntura que
conhecemos. Observando
bem o tal objeto, certamente é uma pedra polida, encontrada em algum sítio
arqueológico. Percebe-se que é um objeto de caça e sobrevivência. Não há
gravura em parede de caverna ou em algum pergaminho, nada, absolutamente
nada, que indique seu uso pelos primitivos visando reações de cura de alguma
patologia ou sintoma. Há apenas uma ferramenta de pedra polida, afinada, com
ponta em ambos os lados. Que dados levam a afirmar que se trata de uma agulha
de acupuntura com fins terapêuticos e não uma ferramenta para a caça, por
exemplo? Simples: a necessidade de provar, a qualquer custo, que a acupuntura
é milenar e é chinesa, praticada há pelo menos cinco mil anos na China. Ou
seja: as informações históricas sobre a MTC não se sustentam a um observador
curioso, muito menos a fatos históricos. Só acredita quem quer. Está mais
para fé e religião que para ciências. Mas, como tudo que rende algum
numerário, poder ou prestígio... não podem ser contestadas! Voltar
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MTC. Ou não |
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