Autoestima e depressão


Depressão 11. Há a lenda que a autoestima previne a depressão e que a baixa autoestima é um dos geradores e sintomas dela. Permita-me discordar.

A confusão se dá porque se acredita que a pessoa ou tem alta estima (e se valoriza) ou a tem baixa (e se desvaloriza). Este é um pensamento nebuloso. Não é assim que funciona, esta forma de perceber é falaciosa do tipo preto e branco (falsa dicotomia).

O amor e os valores de uma pessoa não têm apenas ela mesma para serem aplicados e, caso contrário, ela obrigatoriamente se desvaloriza. E como esta segunda opção não é desejável, as pessoas se iludem que a outra é verdadeira - e assim o Sistema e nós mesmos nos enganamos.

Podemos, por exemplo, investir nosso amor numa relação, num projeto, na família, num filho ou na nossa religião ou ideologia. Amar o que se faz, o filho ou o lugar que nasceu não faz você se desvalorizar. Amor não é algo limitado, que só pode ser aplicado em uma coisa, deixando o desamor a todas as outras. Pelo contrário, podemos amar, além de nós mesmos, muitas outras coisas. Como vimos no texto Não podemos amar os outros se primeiro não nos amarmos (acesse!).

O que nos faz sofrer ou ser feliz não é o valor que colocamos em nós mesmos, mas a satisfação ou realização de nossos investimentos, sonhos e projetos. Fracassos, traições, perdas, luto ou dificuldades seriam as verdadeiras causas de alguma eventual depressão. E pessoas que investem apenas em si mesmas, nem tanto nas relações e obras, terá mais facilidade em fracassar.

Cruel e contra o Sistema, mas quanto menos se investe nas relações e obras para se economizar e valorizar, menos alcançamos o sucesso, a satisfação e momentos prazerosos. Há uma dosagem de gastos de valores (tempo, numerário, atenção, vida e amor) que pode e deve ser considerada quando o objetivo é a satisfação, excessos ou faltas não garantem, mas dificultam a empreitada. 

Voltemos ao tema que discutimos no texto sobre a Terceira Entidade. Falamos que, nas relações conjugais, não temos apenas a nós mesmos ou ao companheiro para dedicar nosso amor e a nossa vida. Podemos investir na relação em si, e a reconhecemos como uma terceira entidade: ambos os cônjuges se dedicam a ela, não a si próprio. A felicidade é mais fácil de ser alcançada em objetivos do grupo ou casal que em prazeres e satisfações individuais. Como nos filhos ou outro projeto qualquer.

Há relação direta entre a autorrealização e a depressão, já que o sofrimento psicológico pelo fracasso pode nos levar ao quadro depressivo, mas isto tem pouco a ver com o autovalor que se aplica. Pelo contrário. Se investirmos nossos valores e vida em dosagens fluídicas entre objetivos, planos e nós mesmos mais facilmente evitaremos da depressão.

Acredite, a autoestima costuma ser facilitador do quadro depressivo. Sabemos que a autoestima vêm sendo estimulada pelo Sistema nas últimas décadas. E, ao mesmo tempo, os índices de depressão não diminuíram, pelo contrário. Reflita: na prática, as pessoas que se valorizam muito tendem a sofrer mais de depressão. Se alguém tem sua atenção voltada aos valores que têm e recebe, se é feliz ou sofre em acordo com os valores que alcança e se lhe dão, perceberá que praticamente todas as outras pessoas não lhe dão o valor que ela mesma se credita. Mesmo que o discurso seja - a mim basta que eu me ame e valorize, ignoro outros saberes - isto não evita o sofrimento de não ver suas expectativas confirmadas nas suas relações e a sua volta. As decepções e frustrações serão mais presentes que no caso em que a pessoa investe seus valores, por exemplo, na sua obra, no seu filho, no seu casamento, no seu trabalho ou na sua igreja. Seja lógico: conseguir valores pelas suas ações em grupo é mais fácil que pela sua existência, as pessoas precisam mais de coisas, companhia e serviços que de você! Em outras palavras: as pessoas mais facilmente te valorizam e você mais facilmente se reconhece valioso pelo que você faz do que pelo fato de você existir. Ou ficar desejando ótimas coisas a todos nas mídias sociais.

Reflexão 11. A autoestima alta facilita ou dificulta o quadro depressivo? Por gerar um quadro de expectativa de receber valores que não virão, a autoestima é possivelmente causa de sofrimento psicológico e, consequentemente, de quadro depressivo. 11b. A autoestima baixa facilita ou dificulta o quadro depressivo ou não tem relação necessária? 11c. O sofrimento psicológico e consequentemente a depressão parece estar vinculado 1) à autorrealização e à autossatisfação ou 2) ao nível de valor que se auto aplica?

 

Depressão 12.