DRS.49 |
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Depressão
29 Café
e depressão |
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Sobre alimentos que influenciam nossa capacidade de sentir
prazer, o café por exemplo Quando discutimos qualidade de
vida, sabemos da importância de muitos fatores. Como a escolha estratégica
dos objetivos de vida, a relação com os companheiros e a família, os cuidados
que temos conosco e até as leis que defendem nossos direitos. Mas esquecemos
de avaliar os neurônios e as suas funções. Sabemos que emoções estão
relacionadas a neurotransmissores e hormônios. Tudo que sentimos, sentimos
porque temos neurônios, e esta afetação também impregna nossos neurônios.
Assim tudo que afeta nossos neurônios atua diretamente nas nossas sensações
porque altera nossa capacidade perceptiva-sensitiva. 1) Sabemos que fatos agradáveis ou
prazerosos estimulam áreas do cérebro (ACCUMBENS), com destaque ao
hipotálamo. A produção de certos estimulantes desta glândula (os hormônios
oxitocina e serotonina, principalmente) está diretamente ligada às sensações prazerosas
e à qualidade do sono. Hormônios do hipotálamo promovem a regulação do sono,
das vísceras e da grande maioria das outras glândulas. 2) Sabemos que a dor, fatos
desagradáveis e situações de ameaça estimulam outra área, o sistema nervoso
simpático, com destaque ao tálamo. Estas condições (dor e situações de
ameaça) provocam aumento na produção de certos hormônios e, o que nos
interessa destacar, REDUZEM os hormônios do prazer (oxitocina e serotonina). 3) Ora, os efeitos da cafeína são
comparáveis aos efeitos neurológicos de se sentir ameaçado (veja as reações
da cafeína no texto Café e Dor): mais
adrenalina e dopamina no sangue, dilatação das artérias, aumento do ritmo
cardíaco etc. O que esperar do café? O que podemos esperar de alguém
que consome diariamente cafezinhos, a ponto de sentir-se mal se ficar sem o
consumo desta droga? No que diz respeito à qualidade de
sentir-se bem e feliz, o que esperamos dos viciados (seja em café, futebol,
maconha, novelas ou cocaína) é o estado depressivo. Uma das características
dos drogados é a depressão entre as fases de consumo: o estímulo neurológico
das drogas é tão grande que os neurônios ficam sem capacidade de serem
normalmente estimulados entre um consumo e outro da droga. Paladar, amor,
respeito aos outros, carinho, prazer sexual, olfato, ética, dor, enfim, tudo
que depende dos neurônios - e tudo depende deles - fica reduzido. Sabe aquela eterna sensação de
insatisfação? Com tudo mesmo. Sabemos que a grande maioria de nós, na
atualidade, não está satisfeita com o parceiro, aquela pessoa cheia de vícios
e dificuldades; tampouco feliz com os filhos, aqueles rebeldes que dão pouco
valor ao que têm; também insatisfeitos com a moradia, que podia ser melhor ou
reformada. Mesmo em relação aos progenitores,
não vemos mais a idolatria e satisfação de tempos passados. Sabemos que hoje
em dia não basta termos um parceiro, é necessária alta qualidade no
companheirismo; não é suficiente um ato sexual, mas ele deve ter alta performance;
não chega termos muitos conhecidos, precisamos de amigos fidelíssimos. Sim,
reparamos que as diferenças de desejos e satisfações mudaram muito mais do
que se discute. Ora, não nos contentamos com
pequenos prazeres, mas apenas com grandes vitórias. Além de outros fatores
relevantes, as condições neurológicas podem estar envolvidas? Falamos da sensação de
insatisfação tão geral, tão bem inserida no sistema de consumo, que é até
defendida: quem não tem o desejo de evoluir não serve para viver; evoluir é a
natureza do homem. Dá para sair da dependência? Sozinho é muito difícil. Se quiser
ser acompanhado, dificilmente encontramos quem nos acompanhe. Quem evita produtos com cafeína é
reconhecido por maníaco. Além de difícil de conseguir, não tem o apoio de
muitos. Remédios para dor e problemas
respiratórios, refrigerantes e vários alimentos possuem cafeína em sua
composição. O sistema de capital precisa da
sensação de insatisfação geral para incandescer o consumo. Nisto o café
ajuda. O ritmo frenético que temos
precisa de pessoas mais rápidas, mais resistentes e mais estressadas. Nisto o
café também ajuda. Achocolatados e bebidas a base de cola são ofertados diariamente. E aumentam, a
princípio ou em pequenas doses, as sensações prazerosas, como todo viciado
sabe e as pesquisas confirmam. Pena que depois cause o estado
depressivo.
A eterna insatisfação com os dias
atuais e a busca por direitos já se tornaram bens inalienáveis das pessoas
maduras e responsáveis. Um grande prazer ao cheirar uma flor, ao sentir um
toque da pessoa amada ou ao saborear uma iguaria é para os não adultos:
criancinhas e anciãos. Você viu esta pesquisa? Qual a intensidade do prazer de
estímulos pequenos como receber uma flor, um bem-vindo! um beijo ou um até logo em três situações: sob o efeito do consumo
de cafeína, no estado de abstinência em consumidores desta droga e em pessoas
que não a consomem? Como já disse, sei que existem
muitos outros fatores na compreensão do prazer e da felicidade humanos que
não podem ser esquecidos. Mas se o consumo de cafeína pode tanto ajudar
quanto prejudicar nossa qualidade de vida, deveríamos investigar mais sobre os
seus efeitos. Depressão 30. Retornar à página DRS quadros somáticos e
psicológicos. |
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